Aventurando nos Campos do Senhor
Naquela época eu me dividia entre Cumari, Anhanguera e Fazenda Dourados, de bicicleta! O irmão João dos Santos, Antônio Calaça, Natal Teresa... Eram meus companheiros de viagem...
Naquele tempo bicicleta era coisa rara! Um dia um irmão fazendeiro foi a Cumari fazer compras e no caminho, furou o pneu da bicicleta dele, e em Cumari não tinha borracharia, só o Sr Basílio remendava, e ele tinha viajado. Então o irmão foi na minha casa e tomou minha bicicleta emprestada até no outro dia. Foi para sua fazenda levando: querosene, açúcar, sabão, café, um saco de sal de trinta quilos. Quando foi descer para a sua casa, tinha uma descida longa e ele não sabia que a minha bicicleta estava muito ruim de freios. Lá se foi ele correndo, quando quis parar, foi tarde, o freio não obedeceu... Marcou o mourão da porteira com a roda da frente que acabou ficando junto com a de trás, quebrou tudo, esparramou a mercadoria e ele ficou todo esfolado...
Arrumei outra bicicleta, ou melhor, montei pedaço de uma, pedaço de outra que eu trocava com o Zé Bonitão.
Um dia, vínhamos dos Dourados, eu e o irmão Natal, andávamos no escuro, eu não tinha lanterna, quando relampejava eu achava bom, pois clareava a estrada, mas naquele dia não estava chovendo e nós estávamos uma carga com cerca de 60 laranjas baianas, que havíamos ganhado dos irmãos, num saco na garupa.
Chegando ao Córrego da Cerâmica, estava escuro demais, não tínhamos nem lanterna. Eu vinha pela direita e o irmão Natal pela esquerda, nos conversando e correndo... De repente foi aquele barulhão! Uma senhora batida, vinha um bicicleteiro de Cumari em direção contrária a nossa, e não se viram, trombaram feio! O irmão Natal passou por baixo da cerca de arame e caiu dentro do Córrego!
__ Ai, ai!
__ O que foi isto?
__ Não sei, eu furei o beiço!
No escuro não dava pra saber quem tinha machucado ou o que tinha acontecido... Então chegou um cavaleiro tio do que havia machucado o beiço, Sr. José Florentino ele era gago! E disse:
__ O que que que é isto ai? – continuou – o o oceis pri pri pricisa carregá uma luis!
Acendeu um isqueiro e vimos o desastre, a bicicleta do rapaz havia quebrado ao meio, e ele estava com o beiço furado dava para ver os dentes.
__ Vamos voltar – disse eu – vamos à farmácia, o Tunico (farmacêutico) vai dar um jeito nisto.
Ele não quis, assim levei a bicicleta dele para arrumar e ele foi embora com o tio.
Outro dia vinha voltando da fazenda Dourados e no meio do caminho na Chácara da Cerâmica, do irmão Zequinha Florisbelo as vacas estavam deitadas no meio da estrada e eu não as vi e caí em cima delas os bois e vacas saíram correndo e eu fiquei rindo sozinho...
O tempo passou e eu havia agora ganhado uma lanterna boa do irmão José Farias que tinha mudado para Cumari a fim de trabalhar no Batalhão Mauá, mas vinha economizando pilha já que era bem distante a fazenda da cidade.
Andava Morro acima no Mamparra, quando senti um cheiro forte de mofo, rabuja e alguém havia me dito que onça fede ovo podre, gorado. Acendi a lanterna que iluminou bem na onça que estava parada bem no meio da estrada de frente para mim, eu dei um grito que ecoou na mata, ela deu um pulo e correu pro meio da mata, e eu freei a bicicleta, parei e pensei em voltar, mas pensei não posso volta porque a Sônia vai incomodar, então fiz uma oração, voltei um pouco atrás, embalei a bicicleta, e subi. Foi à única vez que eu subi o Mamparra montado. Cheguei à casa a Silsa era criança, chorou de tanto rir, pois até meu bigode estava arrepiado, onde não tinha cabelo arrepiou também e fiquei assim por uns três dias.
Depois disso o irmão Antero deu faróis para a minha bicicleta, os tais dínamos, que não iluminavam na subida, mas que já melhorou muito a minha caminhada.
A Xispa abençoada
Anos depois o Pastor me presenteou com uma vespa, mas a coitada não agüentou a jornada e após um tombo acabei devolvendo e voltando para minha bicicleta suruana.
O irmão Wilsom, que Deus continue oabençoando, mudou-se de Araguari para Cumari e começou a andar comigo nas congregações e vendo minha dificuldade nas estradas disse:
__Irmão Pedro eu vou te dar uma Xispa, não tem condições do senhor viver essa vida desse jeito...
Comprou e trouxe e me disse:
__É sua, comprei com o dinheiro do dízimo de uma grande empreitada...
__Então vamos por no nome da Igreja pois havia sido comprada com o dinheiro do Senhor e assim fizemos.
A Xispa, é um tipo de moto antiga que parecia uma formiga cabeçuda, mas oh Xispa boa! Andei nela por oito anos!
A Xispa, é um tipo de moto antiga que parecia uma formiga cabeçuda, mas oh Xispa boa! Andei nela por oito anos!
Depois de alguns anos eu estava só, voltando da Fazenda Dourados após um culto abençoado, a estrada estava limpa e boa. Mas na estrada do Córrego do Sr. José Agapito, depois que eu passei, a prefeitura havia despejado dois caminhões de cascalho para arrumar a estrada e como a Xispa estava com o farol fraco, não vi os montes de cascalho e capotei a Xispa, tomei um tombo de matar, mas nada me aconteceu só a Xispa que empenou os dois amortecedores dianteiros, e cheguei em casa vermelho de terra.
Pastor Pedro Lourenço na Xispa doada pelo irmão Wilson
Na Fazenda Gueiroba eu e o irmão Antonio Calaça na garupa, a xispa derrapou e batemos na porteira... Que belo tombo!
Num dia chuvoso o Córrego do Sr. Jose Agapito encheu e eu não tive como atravessar, voltei até a fazenda do Sr. Manoel Caetano (irmã Eva) e passei pela estrada do cemitério, caí num poço de enxurrada e molhei tudo, a xispa apagou e agora?
Fiz uma oração peguei a lanterna enxuguei o platinado dei a partida,ela pegou e eu sai daquele lamaçal... cheguei em casa todo lameado...
Muitas vezes eu simplesmente caía nos mata-burros e esfolava, não sei se ela caía comigo ou se eu caía de cima dela... Quando via estava no chão e joelho infeccionando. O Morro Mamparra é uma serra bem grande com mata nativa, e todos diziam que era assombrada! Um dia voltando do culto, uma noite chuvosa, e escura, vi um grande clarão no meio da estrada, pensei será que vou ver Deus no meio da sarça ardente ou vou ver o trem ruim? Encostei a xispa no barranco da estrada e entrei mato adentro o cabelo arrepiou todo, e fui chegando devagar cada vez mais perto, até que pude contemplar o assombração: Era uma grande teia de aranha que tinha molhado com a chuva e 27 vagalumes havia pregado nela, com o reflexo da luz dos vagalumes e gotinhas d’água, parecia uma grande labareda de fogo... Passei tanto medo à toa!
Às vezes íamos de carrinho de cavalo emprestado do meu pai para arrecadar donativos para as obras assistenciais da igreja.
Eu e o irmão que emprestou a carroça...
De vez em quando fazíamos caravana no caminhão do Sr. Chicão e Antônio de Avelar levando toda congregação de Cumari para realizarmos cultos e batismos na fazenda Dourados.
Nessas ocasiões o Pastor Eurípedes levava a banda e vários outros irmãos, e fazíamos o culto na serraria.
A ponte, o rio, os peixes
Muitas vezes a ponte rodava nas enchentes fazíamos uma pinguela e atravessávamos o rio cheio para a igrejinha e também fazíamos culto na casa do irmão Valdemar. E muitas vezes íamos lá só por diversão pescar com os meninos da irmã Fátima e com minha família.
Fazenda Dourados – à esquerda casa do irmão Valdemar e no fundo a sede
Ponte que muitas vezes rodou com a chuva
Poços cheios de peixes; mandis...
Caminho da água pelas pedras
Eu: Pedro Lourenço olhando o local onde e eu muitas vezes pesquei com os filhos do irmão Sebastião Izídio e logo após a irmã Fátima fritava para nós jantarmos...
Minha esposa Sônia e minha primeira neta Hadassa se divertindo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário