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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Págs 10 e 11


Urias Lourenço
  Meu pai era goiano, mas de família mineira, não andava na moda, naquela época os homens usavam polainas (cano de sola que vestia por cima da botina), pai andava descalço, era barbudo e bravo, por isso ganhou o apelido de: Barbudo.

  Gostava de fumar e beber café nos ensinou muita coisa errada, como fazer artes, mas pinga ele não bebia apesar de fabricar, aprendemos a beber com os amigos.
  Meu pai gostava do serviço bruto: cortar de machado, foice, cutelo, gurpião de aparar madeira, serra manual, plantar roça (arroz, feijão e milho), criava porco e cavalos, mas não gostava de vacas... Gostava do engenho de moer cana, fazia rapadura, moça branca, melado, açúcar, pinga e gostava de dar para as outras pessoas ficarem bêbadas. Quantos mutirões meu pai fez, para roçar o pasto, limpar o rego, destocar roça... Na hora da merenda gente demais: foiceiros, fiandeiras e o arroz doce com pão era levado de carro de boi o carro ia cantando...
   Também se fazia traição, às vezes trabalhavam também, outras vezes só deixavam o Judas.  Íam de madrugada um grupo de pessoas soltando foguetes, tocando sanfona, dando tiros de 44, 38, 32, carregando o Judas, chegava à fazenda deixava o Judas e o dono da fazenda tinha que fazer pagode à noite, mas como meu pai não gostava de pagode ele carregou o Judas e deixou na porta da casa da Sinhá onde teve o pagode.  Lá faziam o sorteio das coisas do Judas: botina velha, chapéu furado... e quem ficasse com a herança do Judas tinha que fazer o boneco de novo no outro ano... matávamos vaca, porco, frango e faziam comida para todos.
    Meu pai não gostava de pagode, pois assim que se casou fez num pagode que quase deu morte, o Clarindo brigou com o Antônio Alves de Sousa ( concunhado). Meu pai ia para a roça de madrugada para trabalhar e voltava cedo para passear com minha mãe e os filhos na casa dos vizinhos, e quantos vizinhos, quantos compadres...
     Meu pai era um comunicador nato, todos gostavam dele, contava história e fazia muitas piadas, e nos ensinou a fazer muitas artes e andava armado... Mas depois que se converteu mudou completamente: nunca mais fumou, tornou-se um velho pacato, mas bem humorado, continuou carreando e vendendo lenha e era fiel nos dízimos e ofertas até que um dia o Senhor o chamou para si, cedo demais...
O Raposão (uma das artes do meu pai)
     No pasto da charqueada tinha um senhor que tinha o apelido de Raposão, e um dia voltando de Cumari para o Sítio, meu pai com o Bráulio no pescoço, minha mãe e nós os filhos, de repente meu pai resolve fazer graça e vendo o senhor gritou;
__Oh Raposão!
  Ele veio na hora, com uma faca em punho... Corremos até minha mãe dizer:
__ Urias eu não agüento mais!
  O Bráulio estava pesado no pescoço e pai resolveu acabar com a brincadeira, tirou a garrucha pôs duas balas e disse:
__ Vem morrer Raposão comedor de galinha, vou te dar dois tiros na testa.
  Raposão parou e disse:
__ Critica e depois quer matar...
__Era brincadeira!
  Fomos embora e minha mãe foi tentando por algum juízo na cabeça do meu pai:
__ Urias você não deve fazer isso não, coitado do homem...

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