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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Págs 19 e 20


O Liscacheiro
    Tio Zeca Sidinês esposo de tia Livertina era muito bom, mas era muito seguro dizia ter cascavel no bolso.  Certa noite com a lua clara e bonita Braz, Eu e Odílio estávamos no sítio do meu pai quando resolvemos fazer uma queijada, mas não tínhamos queijo... Mas sabíamos onde tinham muitos! No sítio do tio Zeca, éramos todos vizinhos... E lá fomos nós... Subi na soleira da janela, os queijos ficavam numa tábua a beira do telhado, eles dois seguraram uma vara bem firme eu firmei bem um queijo bom e com as unhas roí um queijo fresco e deixei lá...  Fomos embora, fizemos o doce... Que delícia!
  No outro dia eu fui à casa do tio Zeca ver o que havia acontecido, chegando lá ele sentou e disse:
__ Pedro senta aqui comigo...
Sentei e perguntei:
__ o que foi tio?
__O liscacheiro (Ouriço Caixeiro)! Veio aqui de noite comeu um queijo e ainda estragou outro...
__ Nossa! – disse eu lutando para não rir...
   Ele então cortou o pedaço estragado, roído pelos meus dedos e disse:
__Se você não tiver nojo pode comer a vontade...
   E eu comi mais um pedaço do queijo... Que coisa mais gostosa...

Ouriço-caixeiro (o liscacheiro)


Braz e Eu na escola
  Quando eu tinha onze anos meu pai, pôs eu e o Braz na escola, ele foi a Cumari e nos matriculou com o saudoso professor Serafim Agapito de Melo, comprou duas cartilhas da infância, e eu achei tão estranho ir para a escola, mas o professor nos entendeu bem, logo éramos os primeiros na taboada, dava a lição subindo e descendo até a casa dos trinta, somar, diminuir, multiplicar ou dividir, não havia dificuldade. 
  Um dia, Eu mais o Urias do tio Antônio Alves fizemos uma peia nas vassouras (folhagem usada para fazer vassouras) do trieiro no lote vago perto da escola e o Sr. Olímpio barrigueira vindo do açougue do Sr. Elias Jorge ( Elias gordo) trazendo Uma lata de manteiga, não viu a peia e caiu, e a manteiga toda se derramou ele se levantou e foi contar para o Sr. Serafim.  Este pôs todos os alunos de castigo até aparecer os culpados: Eu e o Urias.  Ele nos disciplinou da seguinte forma:
__ Tragam outro litro de banha para o Sr. Olimpio ou serão expulso da escola!
  Em casa tive que contar para a mãe que me deu uma surra e pai outra, no outro dia levei a banha e outro sermão do professor!
   O povo dizia:
__Essa molecada netos do Antônio Lourenço é pior que o capeta!
   Um dia voltando da aula resolvemos por fogo no pasto do Sr. João Laura era meio dia, o fogo queimou o pasto todo, e entrou na roça queimou toda a lenha que ele havia amontoado e quase que queima o curral...
   Na praça da igreja, quando voltávamos da escola, o João do Sr. Nem me chutou e disse:
__ Oh bobinho da roça que ano você estuda? – eu estava grande e atrasado na escola e fiquei envergonhado e respondi:
__ Por que você quer saber? Vai a p...
  Naquela época a maior ofensa da vida era alguém xingar a nossa mãe e ele respeitoso, veio em cima de mim e errou o tapa e eu falei a mão no zóio dele e mais tapa e mais pescoção, chute... Então o Senhor Nem viu e veio correndo bravo e juntou o Braz, o Tota, o Zezinho, o Pedro do Bastião e encaramos o Sr. Nem que levou seu filho para casa, e eu fiquei galudo!
  Mas no outro dia o Valdeberto me cercou e me disse:
__ você bateu no João do Nem?
__Bati, por quê?– respondi galudo
__ Porque agora nós vamos acertar!
  Afastei o pé para trás e mandei um pescoção nele morrendo de medo, era para pegar no pé do ouvido, mas pegou no nariz e foi aquele sangueiro e ele desistiu da briga.
  No final do ano o nosso professor adoeceu e não pode mais lecionar assim tivemos que transferir para o Grupo Castro Alves com a professora Maria Consuelo no final do ano fomos aprovados.  Estudamos então o livro “Felisberto Carvalho” e depois o livro “Nosso Brasil”.
  No final deste ano meu pai adoeceu e eu que já não estava mais querendo nada com os estudos rasguei meu boletim, e fui ajudar a minha mãe a cuidar dos meus irmãos.  Meu pai não andava com problema na coluna, nós ficamos trabalhando durante três anos, ele tratou e sarou graças a Deus, depois de sadio fomos trabalhar juntos.  Eu não quis mais estudar, mas o Braz terminou o “Manuscrito”. 

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