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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Págs 23 e 24


Negociando
   Eu sempre negociava... A Aparecida (minha irmã) queria comprar uma máquina de costura, pôs uma vaca parida a venda, e só achou mil e oitocentos reis, meu pai me disse:
_Compra a vaca dela e dê a ela os dois mil.
  Eu comprei.  A vaca era tão mansa como nunca vi outra igual, rendia dez litros de leite por dia.
    Comprei uma espingarda do Tatano filho do Sr. Nicolau e fizemos um campeonato, o Zico, o Vardim e eu: ver quem matava primeiro.  Eles tentaram, mas não conseguiram, eu matei um gavião quirí-quírí, dessa espingarda comecei a negociar e dei sorte, pois a vendi para o Sr. Manoel Gomes e comprei um leitão vermelho do tio Vergílio, engordei o leitão e vendi para o Sr. Elias gordo e comprei do tio Jacinto uma novilha baia, mas era bonita, brava mais sadia, meu pai amansou ela, era de pouco leite mas todo ano produzia um bezerro e meu gado foi só aumentando.  Juntei 30 mil reis de 1 a 1 o dinheiro que meu pai me dava para ajudá-lo carrear lenha no carro de boi.   
  Ganhei uma carteira do Tio Zé Emídio e pus o dinheiro ali, e não gastava nada! Queria era mais.  Mas um dia, cheguei à casa do meu avô, e o Quinca Miguel queria vender uma égua com um potrinho vermelho mascarado de branco, por 35 mil reis, então meu padrinho Jacinto disse:
 __Quinca só quem pode comprar a sua égua com o potrinho é o Pedro.
__ Quanto é? - perguntei
__ Trinta e cinco. Disse - me ele
  Então falei com o meu pai:
__ Posso comprar?
__ Pode.
__Eu só tenho trinta, mas é na hora!
  Ele fez por trinta, eu comprei, e joguei a carteira fora.
  O tio Delfino foi lá à rua pegou a carteira trouxe e me entregou, mas eu não a quis mais. Afinal não tinha mais dinheiro.
  Tio Tõe queria me vender um revólver 45 colt cavalaria era duzentos reis , mas meu pai não deixou eu comprar, era Deus não permitindo que eu me tornasse um criminoso.
  Fiz muitos catiras com os Srs: Antônio Jorge, Sebastião Pedro, Geraldo Jacinto, Zé Bonitão...  Mas apesar de ter tido um bom tino para os negócios eu compreendi que não era essa a minha missão: negociar, mas ainda não sabia qual era.         
revólver colt 45 cavalaria
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            


Tentando a Vida
  Já adolescente tinha uma vocação de ser mecânico, o Sr. Mário de Paiva montou uma oficina em Cumari, e meu pai, amigo dele, conseguiu que ele me empregasse, mas como aprendiz, eu não receberia nenhum centavo pelo meu trabalho até adquirir experiência, depois na medida do possível, faria um salário segundo a produção.  Mas minha mãe não quis, porque eu ia sujar minha roupa de graxa e também porque eu ia trabalhar de graça... Tive que desistir, fiquei contrariado, mas deixei de seguir minha vocação.
  Eu também tive desejo de ser maquinista, queria “mandar” uma Maria fumaça.  O tio João Severino era inspetor do Goiás Ferroviária, sabia do meu desejo de ser maquinista daí quando surgiu uma oportunidade ele veio me buscar.  No primeiro momento eu ia ser foguista do trem, mas naqueles dias bem perto de Cumari, a máquina estourou a caldeira e matou o foguista e minha mãe disse: __ Pedro não vai, eu não quero ver ele morto como aquele pai de família.
 __ Na verdade é perigoso, mas é o início daquilo que ele quer ser... – disse tio João
  Mas mamãe não se convenceu:
__ Não meu filho, não vá fica conosco!
  E eu fiquei por hora...
  Aos 17 anos sai de casa, fui procurar trabalho, fui para Goiânia trabalhar para o Sr. Miguel Name na construção dos barracões Name Abrão em Campinas.  O serviço era pesado: carregar concreto na lata, tijolos na tábua... O Sr. Albino o português era o chefe da obra e meu amigo, então no fim do terceiro dia de trabalho eu disse a ele:
__ Pedreiro igual a esse daí, eu também sou...
__ Então pegue a colher! – mandou ele
  E mais rápido possível entrei no meio dos pedreiros, às vezes tinham dez de uma só vez... Fiquei tão rápido que o Sr. Miguel Name me apelidou por: Minhocão.  Mas o que ganhávamos de dia gastava à noite na farra bebendo...
 Terminados os galpões montamos as máquinas e começamos a beneficiar: arroz, feijão, gergelim, mamonas, algodão... Então descobri o curso de inspetor de malária e fiz as provas, passei, meu amigo Moacir Silva trabalhava lá me ajudou, mas minha vaga saiu para o Mato Grosso e me desaconselharam de ir para lá, pois naquela época lá era um foco de malária... Resolvi então voltar pra Cumari...
  Andei muito procurando trabalho, em Anápolis, Itumbiara, Caldas novas, Pires do Rio onde entrei no batalhão Mauá, mas não gostei, em Raul Gonçalves para baixo de Ipameri entrei na turma volante da estrada de ferro, trabalhando como tatu, trocando dormentes... Como eu não tinha um curso profissionalizante não eram muitas as oportunidades...
  Mas meu prazer era plantar, colher e com o dinheiro da safra comprar bezerros, assim logo meu gado cresceu... 30 vacas leiteiras, 6 curraleiros de carro além do gado solteiro e do dinheiro que eu emprestava...  eu e meu pai nunca mais nos separamos até o meu casamento, as vezes eu trabalhei fora mas voltei a estar com ele, por 27 anos trabalhamos juntos.

Eu trabalhando na roça de arroz


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