Lina Maria
Minha Mãe é mineira, natural de Dourados Quara, filha de José Severino de Aguiar e Elmira de Aguiar, Mulher exemplar viveu para o esposo e filhos: educou-nos bem, num costume bom: Não podia responder ou apanhava, ninguém podia pegar dois pedaços de carne ou frango, o biscoito era repartido por ela e não podíamos mexer no jacá de biscoito que ela fazia toda semana, todo o dia tinha tira jejum, mas se mexesse era surra na certa e tinha que ser assim afinal éramos dez filhos! Mamãe pegava mandioca à meia e fazia polvilho mas não ficávamos sem biscoitos, ela criava patos, galinhas, perus, angolas... Fiava, tecia, e costurava como ninguém e ainda plantava horta...
Imagine a força dela, cuidar de dez filhos sem água encanada, sem chuveiro, sem energia elétrica, sem todas as comodidades de hoje... É um exemplo de vida a seguir, quando preciso passava-nos o chicote, mas aprendemos a trabalhar e valorizar as coisas. Hoje aos 95 anos continua brava, saudável e lúcida!
Lembrança mais antiga
Minha lembrança mais antiga foi quando o meu pai montou um engenho de cana. Eu tinha de uns dois para três anos. O meu padrinho Jacinto doou o engenho para o meu pai.
Nunca me esqueci dos buracos que foram feitos para fincar os esteios do engenho. Na hora do almoço minha mãe os chamou para almoçar e meu pai me pegou pelas mãos e me desceu dentro do buraco. O tio João Lourenço veio e me tirou do buraco. O buraco era tão grande que tinha uma banqueta dentro de onde subiam e jogava a terra para fora.
Pintura mural na Praça da Estação em Cumari GO – pintor cumarino -?
Lembro-me de que não existia energia elétrica onde morávamos, usamos então candeia de azeite de mamona que mamãe fazia e depois lamparina com querosene, um dia fomos visitar o tio Vergílio ele havia comprado uma lamparina e uma lata de querosene de 20 litros um verdadeiro luxo na época! Tão logo eles começaram a conversar eu entrei na despensa e sem que ninguém visse derrubei a lata de querosene e montei em cima dela e fiquei olhando a querosene escorrer pelo chão. Da sala eles sentiram o cheiro e depararam com a cena... Tinham restado apenas uns dois litros dos 20... Que prejuízo!
Todos os dias eu via meu pai descascar as espigas de milho e dar para os porcos e depois ele punha fogo nas palhas. E um dia resolvi fazer a mesma coisa já estava tentando por fogo nas palhas dentro do paiol quando tia Fia (irmã da minha mãe) Chegou e danou comigo, chorei a tarde toda de raiva dela, e meu pai me chamou de Zé Vieira (que era um tipo popular que não podia ver caminhão que embarcava fosse pra onde fosse).
Aos quatro anos comecei a ser candieiro (menino que anda na frente dos bois com uma vara pequena conduzindo o boi) e boieiro (levar comida na roça) para meu pai e tio Zeca, calça de alça e pés no chão, chapéu de palha na cabeça um dia meu pai sem querer passou os bois em cima de mim, quase morreram de susto, mas eu sobrevivi.
Aos seis anos meu pai comprou um boi preto: o Elefante, mas ele não gostava de criança, eu estava guiando ele no arado, quando ele me investiu me jogou pra cima jogando longe e eu desmaiei, meu pai me levou pra dentro, fez-me uma massagem e me deu uma água de sal eu melhorei e minha mãe o fez vender o boi na mesma hora.
Mamona ( Ricinus communis L) fruto usado para fazer azeite. |
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