O pesadelo
Foi numa festa de Santa Cruz que eu senti algo estranho, tinha ido com o Sr. Bertoldo e seus filhos e filhas, ao meio dia soltavam foguetes depois da reza e todos iam almoçar, e como tinha muita gente estranha eu fiquei quieto não fui sentar-me a mesa, mas contaram para o Sr. Zeca Justino que eu estava com vergonha e ele veio e me levou para servir a comida, depois que me servi voltei a me encostar na cerca do curral onde estava antes. Era uma cerca feita de lascas de aroeira. Mal me encostei na cerca senti um murro nas costas, foi tão forte que o meu prato voou longe jogando toda comida fora... Fiquei assustado nem eu nem ninguém vimos nada! Eles disseram que lá era assim mesmo e mandaram que eu pusesse outra comida. Isso foi só o início do meu pesadelo...
Igreja de Santa Cruz (Capoeirão)
No dia 13 de Janeiro de 1963, foi o dia mais horrível da minha vida. Fui levar o meu sobrinho Nivaldo (filho da minha irmã mais velha Maria) para ver sua avó na Fazenda Lagoinha. Na volta, passamos na casa do Messias (meu primo) chegando ali senti o mal da morte, desmaiei na porteira do curral, caí por terra e fiquei fora de mim por três horas mais ou menos. Quando dei por mim, estava deitado no colo da Izelina esposa do meu primo. O Nivaldo e o João de Deus chorando. Que tristeza para mim... Todas as pessoas da vizinhança preocupados... mas fomos embora...
A partir daquele dia acabou minha alegria, sempre eu desmaiava. Os médicos diagnosticaram: Epilepsia. Passei a tomar remédios controlados: Gardenal, Comital e tantos outros... Fiquei doente por cinco longos anos, no fundo do poço, numa amargura sem fim... Fiquei revoltado e cheguei por duas vezes a tentar o suicídio.
Um dia fui para um lugar deserto chamado Poção e lá amarrei minha espingarda fazendo pontaria onde eu ia ficar, cortei um cipó e amarrei no gatilho para me detonar. Na hora de morrer, tirei minhas botinas e resolvi rezar primeiro, fiz a oração do Pai Nosso e ouvi uma voz que me disse assim:
__ Não faça isso, você já perdeu tudo que tinha e agora vai perder também a sua alma.
Desarmei a espingarda, dando o tiro para cima, calcei as botinas e fui embora triste, completamente triste.
Sempre desmaiando perdi o prumo, fiquei sem destino, e passei a beber bebidas alcoólicas.
Numa outra vez, pensei em pular na frente da locomotiva 444, mas na hora, ouvi novamente a voz dizendo: __ Pedro não faça isso, isto é pecado! E então desisti.
E tomei uma decisão, falei para o Amauri (Tota meu primo, filho da tia Zulmira): __ Agora eu vou matar um, para eu ficar famoso.
Ele disse: __ Que isso Pedro, nossa família nunca fez tal coisa!
O tempo foi passando, eu tinha dinheiro, tinha gado, tinha meus seis bois curraleiros pretos mascarados, mas tudo isso eu perdi. Comecei a andar com maus elementos.
Quando vieram de Minas a família do Neguinho Florindo eu me aliei a eles e formamos o bando dos quinze, e eu era o líder, eles me chamavam de Sócio. Fizemos muitas proezas, até que o Ninos me disse:__ Vamos parar com isso.
Agora, eu além de doente, já viciado na bebida, disposto a tudo com meus companheiros, não trabalhava mais, desde o dia 13 de janeiro de 1963 a 10 de outubro de 1967, descabriado, triste, perdido, mergulhado na amargura, andei muito procurando solução.
De Curador em Curador, médico em médico, e nada de cura. Até que um dia, em Araguari, Minas Gerais, No Hospital Santo Antônio, ouvi da boca do Dr. Belizário:
__ Pedro, não adianta mais, você não pode mais andar sozinho, vai morrer em casa, seus pulmões estão furados com tanto álcool, seu coração está tão fraco, como o motor de um jipe puxando uma carreta. Eu fui embora.
O ladrão de lenha
Depois que passei a sofre de epilepsia, eu não podia mais trabalhar, pois ficava desacordado por horas onde quer que eu estivesse... Então resolvi comprar uma carroça para vender lenha junto com o meu pai, fizemos um deposito na beira do quintal, e logo começou a sumir lenha... Resolvi descobrir que é que estava roubando nossa e acabar com tal ação. Á noite finquei uma vara ao lado do monte de lenha e estendi um cordão de algodão, de forma que para pegar a lenha tinha que esbarrar no cordão. Pus um tiro mão travessa na espingarda a amarrei no pede manga com a boca para cima e passei o cordão no gatilho. Quando foi lá pelas cinco horas da manhã veio o Hugo o meirinho da polícia (levava intimações) tirar leite na charqueada. Ouvi o barulho de sua bota de borracha, e logo ouvi o tiro, ele havia ido pegar lenha como de costume para levar para uma senhora que ele gostava, e o tiro o fez se assustar e correr e eu corri para fora de casa para ver quem era. E vinha voltando da Anhanguera a pé os senhores Geraldo Lizarda e Valdeberto Alves, que rapidamente disseram:
__ Oh, quem estava roubando lenha não é nós não é o Hugo!
Nunca mais sumiu lenha da pia!
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