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Estava com mais ou menos quinze anos quando tio Zeca Sidinês comprou uma vitrola com discos de 48 rotação e todas as tardes, íamos para a casa dele ouvir música. Enquanto ele punha o disco e dava corda na vitrola tia Livertina amolava a agulha numa pedra de afiar faca.
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vitrola |
Assim Braz e eu aprendemos a cantar as primeiras músicas. A primeira foi: “Tapera na beira da estrada” com Tonico e Tinoco. Mas Braz adoeceu e teve que ser levado para a Araguari para operar a garganta e ficou sem poder falar ou engolir por um tempo.
Papai então comprou para ele um cavaquinho de oito cordas, e ele muito se alegrou, mas ninguém sabia afinar ou ensinar a tocar o tal cavaquinho.
Então apareceu o Sr. Herculano e nos ensinou algumas posições. Troquei uma espingarda com meu primo Jaime em troca de um violão de tarrachas Mas o dia em que eu levei a espingarda, ele engoliu a lobeira!
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lobeira ou fruta-do-lobo (Solanum lycocarpum) |
Mas o Joel do Sr. José pequeno tinha um violão de craveia de madeira, e eu catirei com ele, dei umas coisas em troca do violão.
E começamos então a formar uma dupla, sem saber começamos a dedilhar, minha mãe nos dizia:
___Isso que vocês estão tocando é samba, é “meu limão, meu limoeiro”...
Tínhamos na nossa família o tio José Emídio que tocava acordeom e também o Iba tinha uma pé-de-bode, mas que som bonito. Meu pai fez uma festa no sítio voto para o Divino Pai Eterno que durou dez dias no último dia após a novena o Tio Zé Emidio trouxe a sanfona, mas meu pai não deixou tocar disse:
__Pode comer, pode beber, mas pagode, não, não quero saber de rela-rela...
Minha mãe ficou contrariada...
Tinha ali em Cumari um Senhor que se chamava Justiniano que trabalhava com lata e tinha um filho por nome de Argemiro, e havia dado uns passeios no México quando solteiro, depois de muitos anos apareceram dois filhos deixados no México que tocavam e cantavam muito bem, fizemos amizade e eles nos ensinaram um pouco mais, e Braz e Eu formamos a dupla: Louro e Lourenço. Das 17 duplas que havia em Cumari tirávamos em primeiro lugar cantando musicas de: Torres e Florenço, Zé fortuna e Pitangueira, Tonico e Tinoco, Cantávamos: Moreninha linda, Curitibana, Abre a porta, Tristeza do Jeca, Chico Mineiro e outras... Chegamos a escrever algumas músicas e cantar, mas queríamos saber mais...
Tinha ali uma tapera assombrada do Sr. João Laura que teve que mudar devido as coisas sobrenaturais que aconteciam ali, e Braz e eu íamos a noite, entrávamos no porão e dizia:
__ Vem Capeta do João Laura ensinar nós tocar violão nós te dá a nossa alma...
Morcego era praga, no escuro, mal víamos um ao outro, mas nada nos aconteceu, nada víamos, ou ouvíamos, e todos que lá chegavam, apanhavam ou viam alguma coisa... Logo depois o Dr. Artur médico da cidade montou no seu motor e foi lá para ver se realmente acontecia alguma coisa, pois ele não acreditava em casa mal assombrada. Chegando ali ele foi recebido a Jenipapadas, jogaram jenipapo verdes nele e ele não via ninguém, voltou para Cumari todo roxo com o chapéu virado do lado do avesso na cabeça ele não viu quando o chapéu virou do avesso...
Genipapo (genipa americana) |
Mas conosco nada aconteceu pois Deus já havia nos escolhido e nos protegia...
O Divo Ivo filho do Sr. Bertoldo e Dona Itelvina, sempre foi um grande amigo da família ele também comprou um violão e nós aprendíamos juntos, quando ele tocava:
___Tum dum dum... – Olhava para sua irmã e dizia:
__Baba não Fatia...
E até hoje quando alguém faz alguma coisa diferente ou bonita dizemos:
Chegou então a Cumari um senhor tintureiro: Vicentão que tocava muitos instrumentos: violão, viola, cavaquinho, banjo... E meu pai então o pagou para nos ensinar...
Mandamos fazer dois ternos de casimira aurora, azul marinho e passamos a cantar em festas, casas de pagode... Juntos com o sanfoneiro Geraldo Cor-de-Rosa...
Mas eu fiquei doente, epiléptico, e o Braz passou a cantar com o Belchior, mas logo depois se casou com a irmã Zita. Acabando assim a dupla mundana: Louro (Eu) e Lourenço (Braz).
Também toquei muito com o Sr. Tobias Evangelista o “Rei do Acordeom”, com Tatano Papine (acordeom), Jarbas Sebba (bateria) e eu no violão em muitas festas da Paróquia na época do Padre Gregoriano Santos Filho, ele gostava da música: “Montado a cavalo cortando o estradão assim era a vida que leva o peão...”
O Senhor Messias Veríssimo (o Missião - nariz – de - bezerro) esteve em São Paulo fazendo aulas de dança e quando voltou me ensinou a dançar: bolero, tango, mambo... E aí virei pé-de-valsa...
Fazendo Artes depois de rapaz
Quanto mais eu crescia, mais dava trabalho para meus pais, mais artes eu aprontava, e quando chegou de Minas a família do Sr. Neguinho Florindo eu me aliei a eles e tornei-me o chefe de um bando de quinze, meu nome então mudou de Pedro para Sócio, olha só que aprontávamos:
As formigas
Um dia fomos num aniversário na Cerâmica na casa do Sr. Sebastião Curubino, o Zé do tio Virgílio e eu, mas achamos o pagode muito fraco e resolvemos acabar com ele... Eu sabia que debaixo do toco para entrar na sala tinha um formigueiro de formiga lava-pés... Então convidei o Zé para me ajudar a aluir o tronco e assim fizemos... As formigas não pediram licença tomaram conta da sala... Só se via as moças e mulheres correrem para o quarto... O pagode acabou em coça-coça (às vezes também acabávamos com os bailes jogando no chão pó-de-mico – pó feito da casca do pequizeiro).
formiga lava-pé |
Mas ainda não estávamos satisfeitos. Eu e Zé saímos na frente para fazer outra arte, no Córrego do Sr. José Agapito a enchente levou a ponte e colocaram uma pinguela.
Para irem embora, todos tinham que passar pela pinguela... Com um pedaço de madeira arrastamos a pinguela e deixamos só a pontinha no barranco e amoitamos no capim colonião para ver o que acontecia... Eram uns quatro metros de altura, o povo veio e foi passar o Sr. Geraldo Cor-de-rosa com o acordeom nas costas ia à frente seguido pelo Sr.Geraldo Lizarda, o Sr. Tamirim com os violões e mais um punhado de gente... Tão logo começaram a atravessar a pinguela caiu com todo mundo, saíram xingando de dentro do córrego, todos se molharam e Geraldo Cor-de-rosa logo disse:
__ Isso não passa de ser o Pedro do Urias, aquele miserável...
O burro do Cigano
Tinha um cigano em Cumari muito amigo do tio Delfino, o Sr. Benedito, um dia ele foi passear na Matinha onde morava o meu tio onde nós plantávamos roça, e deixou o burro amarrado no curral dentro do barracão, e nós estávamos apanhando laranjas: Eu, Braz e o Vardim.
E eu tive uma idéia e disse:
__ Vamos fazer uma arte?
__ vamos – responderam de pronto – o que?__ Vamos amarrar o burro do Benedito na cerca do curral.
Toparam. Pegamos o laço do vôvô Lourenço, emparelhamos o burro na cerca de tábua e arroxamos o bicho, até que ele ficasse de pés no ar, pendurado e depois demos o fora.
O Sr. Benedito tomou café e quando resolveu ir embora foi pegar o burro no curral, o burro estava gemendo... Ele disse:
__ O que é isso? Meu burro está quase morto de tão arroxado!
Não tiveram como desatar o laço, pois havíamos feito xixi no nó e o nó não soltou e tiveram que cortar o laço do vôvô e tio Delfino ficou furioso.
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