Idas e vindas
Depois de algum tempo fui a Palmelo, estado de Goiás, no Centro Espírita para segundo eles desenvolver as linhas cruzadas. Fiquei ali por três meses, mas eu não sentia nada! Nunca fui incorporado, nunca vi nada... Eles diziam que eu tinha muita força e que eu tinha que desenvolver mediunidade, bem que tentei, mas nunca senti nem vi coisa alguma... Eles me trataram muito bem, foram caridosos, amorosos, esforçados, mas não puderam fazer nada por mim... Voltei a Cumari e aí fui ajudar a Dona Faid, que era a médium mais conceituada da cidade. Ela dizia que eu era grande, que os meus passes quebravam as cadeias das trevas, mas eu mesmo, nunca recebia nada!
Tomei uma decisão, voltei ao Catolicismo, procurei o padre Gregoriano Santos Filhos, confessei tudo para ele, e ele me disse: __Você Pedro, está com um pé no céu e outro no inferno, vá rezar seis Pai Nosso e dezessete Ave Maria e estará perdoado.
Nem rezei nem tomei a Comunhão. Então meu amigo Geraldo André disse para eu voltar para o Espiritismo. Eu estava perto de ficar louco com tanta coisa e voltei pro centro e levei comigo meu irmão Braz e sua família, e meu amigo Vanderli Agapito.
No Centro Espírita, o presidente me perguntou:
__ Você já conhece o regulamento?
__Sim – cheguei dizendo mentiras.
__ Hoje é dia de comunicação, e você vai fazer parte da corrente.
Apagou a luz normal e acendeu uma colorida, escura (sou daltônico não entendo de cores), logo alguém começou a ter convulsões, outros gritavam, outros falavam e eu nada via ou ouvia ou sentia.
O presidente então disse que eu era um médium muito forte e que eu devia desenvolver por isso passei cinco anos no Espiritismo, mas não recebi nada! Então novamente abandonei tudo e voltei a fazer proezas com a turma.
Também fiz parte da Congada de Cumari na época que meu primo Jacinto Lourenço era general e cheguei a capitão de guia, tocava um cavaquinho de oito cordas e às vezes pegava a caixa para repicar o rojão. Bebi marafa na cuia pequena e depois na maior, no caramujo de de sete pontas.
O tempo passou e eu continuava naquela intenção maligna de matar alguém para ficar famoso. Numa certa feita, tinha uma festa no Colégio, foram dez dias de festa, e eu dez dias na cachaça, que só terminou no domingo dia 09 de outubro.
E a jumenta fala...
Segunda-feira fui para Araguari procurar o Dr Durval. Ele me examinou e disse: __ Pedro eu não vou te receitar mais nada, você não pára de beber, pode ir embora.
Eu respondi: __ Não doutor, agora eu vou parar mesmo.
Ele receitou uns remédios, e eu nem aviei a receita, fui para a rodoviária. Chegando ali, procurei um charreteiro e perguntei: __ Você sabe onde mora o Profirinho (Porfírio?)?
Ele respondeu: __ O curador?
__ É – disse eu
__Sei - disse ele – mas eu sei de um ainda melhor que é um índio...
__Não quero, eu quero o Profirinho – disse eu.
E lá fomos à sua charrete, tinha soltado a borracha de um de seus pneus e fomos mancando, mas chegamos. Ele perguntou se eu queria que ele me esperasse eu disse que não o paguei e ele foi embora. Bati na porta, saiu um homem pequeno, de chapéu, e eu perguntei:
__ O Senhor é o Profirinho?
__ Sim, vamos entrar – disse ele – eu já sabia que você vinha aqui...
Ele sabia mesmo, pois tem muita gente boba como eu para procurar essas coisas... Lá dentro tinha dois santuários, uma mesa com duas bacias de raízes moídas, pensei: Hoje eu acertei a mão, este era o curandeiro que eu precisava encontrar...
__Precisa de alguma coisa? Perguntou ele.
__ Sim - disse eu
__ O que você precisa? –perguntou ele.
Contei-lhe toda a minha vida, e ele com uma caneta, batia na sua testa. Quando eu terminei, ele me disse:
__ Você bateu na porta certa! Você está vendo esses santuários? Estas raízes moídas... Meu filho isso não vale nada, é para mim um balcão de negócio. Você precisa fé em Deus! e Santo Antônio, ninguém te cura ,só Deus é capaz de fazer o que você precisa, e você precisa é ter fé em Deus, Curandeiro não sabe é nada, vá embora e pede a Deus, ele pode te curar...
__ Mas o senhor não vai fazer nada por mim? Perguntei atônito.
__ Eu já te disse que eu não sei nada – disse ele - como posso fazer alguma coisa por você?
Mas pegou um papel, pôs duas colheres de pó de raízes moídas e me deu dizendo: __ Põe isso no vinho de uva branca e toma, mas isso não vai resolver nada.
Quando fui pagar ele disse:
__ Não é nada. Mas dei um troco para ele e voltei para a rodoviária.
Chegando ali, vi duas moças fazendo a limpeza numa igreja, acho que era a Igreja Batista, cheguei ali e as cumprimentei e entrei na igreja, fiquei olhando tudo, elas perguntaram o que eu achava de tão importante, e eu respondi que era elas fazerem a limpeza, que elas estavam trabalhando para Deus e que era uma honra trabalhar para Ele. Então elas me convidaram a voltar à noite na hora do culto e eu prometi que se ficasse iria. Voltei para a rodoviária e comprei a passagem, para Cumari por treze cruzeiros, e me sobrou dezessete no bolso, de toda a minha economia, só Deus sabe toda a tristeza que eu sentia naquele momento.
Resolvi ir à loja Mil e Um para comprar uma Bíblia, porque eu via o Sr. João Malaquias ensinar pela Bíblia e eu como presidente dos jovens espíritas, achei que eu também precisava de uma Bíblia.
Na loja perguntei: __ Moça tem Bíblia?
Ela respondeu: __ Tem apenas uma – e perguntou: __ Para que você quer uma Bíblia, você é tão jovem...
Respondi que eu fazia parte do Espiritismo e que necessitava de uma. Então ela trouxe a Bíblia e a pôs no balcão, e eu a peguei e senti uma coisa maravilhosa naquele momento, perguntei o preço ela disse:
___ Dezessete e cinqüenta centavos.
Mas eu só tinha dezessete! Pedi para deixar por dezessete e ela disse que não podia, então pedi para falar com o gerente.
O gerente veio sorrindo e disse:
__ Cadê o moço da Bíblia?
__ Sou eu – respondi
Ele então perguntou por que eu queria que deixasse por dezessete e eu contei que tinha apenas isso, ele perguntou de onde eu era eu respondi que de Goiás e ele disse que o sogro dele tinha uma fazenda lá, perguntei quem era o sogro dele e ele disse: __ Seu Trajano Costa Mendes!
__ Então agora você vai fazer a Bíblia por dezessete porque eu planto lavoura para seu sogro!
Assim tomei posse de uma grande Bíblia Católica.
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